Segue um bonito e lúcido texto de Dom Demétrio sobre as atuais ameaças
contra Pedro Casaldáliga.
Dom
Demétrio Valentini
Bispo de
Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira até novembro de 2011
Adital
Dom Pedro
Casaldáliga, bispo emérito da Prelazia de São Félix do Araguaia, no Mato
Grosso, está sendo seriamente ameaçado de morte. Para protegê-lo, o Governo
Federal tomou a iniciativa de removê-lo de lá, e levá-lo a um lugar distante,
onde permanece sob a custódia da Polícia Federal.
Dadas as
circunstâncias, esta medida do Governo se justifica, e merece ser apoiada.
Quando a vida corre perigo, o Estado tem a obrigação de fazer o que está ao seu
alcance para defendê-la e preservá-la.
Independente dos
motivos das tensões existentes, devidas à iminente execução da sentença de
reintegração de posse em favor dos índios Xavante, das terras de
"Marâiwatsèdè”, com a retirada de toda a população não indígena, permanece
muito estranha, e profundamente equivocada, a ameaça feita contra Dom
Casaldáliga, como se ele fosse o culpado da situação agora existente.
Desde que foi
eleito bispo, em 1971, Dom Pedro Casaldáliga vem dando a todos um comovente
exemplo de autenticidade evangélica, de austeridade, vivendo pobremente nesta
Prelazia que a Igreja lhe confiou.
Ele está agora com
84 anos de idade. Desde 2002 é Bispo Emérito. Como tal, podia ter retornado à
sua terra de origem, a Catalunha. Mas fez questão de permanecer nesta terra
cheia de conflitos decorrentes de problemas de terras mal resolvidos.
Dom Pedro é
incapaz de matar sequer um mosquito. Por que temer um ancião de 84 anos,
desarmado, indefeso, cordato e pacífico?
A violência é
sempre má conselheira. É preciso, quanto antes, desarmar os espíritos, para
todos assumirem uma postura de respeito e de entendimento.
Ainda mais tendo
presente a firme decisão de Dom Pedro, de manter-se sereno diante das ameaças,
e pronto igualmente para testemunhar com a própria vida suas convicções na
defesa dos humildes, sejam eles índios ou posseiros.
Diante destas
novas ameaçadas, D. Pedro continuou fazendo poemas, como fez ao longo de sua
vida. Este o recado enviado agora aos que querem matá-lo:
"Eu
morrerei de pé como as árvores.
Me matarão de pé.
O sol, como testemunha maior, porá seu lacre
sobre meu corpo duplamente ungido”.
Esse é Dom Pedro.
Com ele as armas da morte só acentuam a força do seu testemunho. Sua coragem
nos remete a buscar uma solução justa e pacífica para o impasse criado com a
execução da sentença judicial.
Em primeiro lugar,
valem as palavras do atual Bispo da Prelazia, Dom Adriano Ciocca, que nos
ajudam a perceber a gravidade da situação: "sabemos que está havendo muito
sofrimento, sobretudo dos mais pobres, por causa desta retirada determinada
pela Justiça.”. Mas adverte com clareza: "Desde o início desta ocupação,
alertamos para a possibilidade do atual desfecho, por se tratar de terras cujo
direito é garantido ao povo Xavante pela Constituição Federal”.
Dada a proporção
do conflito, garantido o direito dos Xavantes sobre este território, o Governo
Federal deve, como manda também a Constituição, indenizar todas as benfeitorias
feitas pelos ocupantes de boa fé, mesmo que tenham sido enganados.
E como se trata de
uma situação paradigmática, em que a demora da solução acabou agravando a
situação, o Governo precisa assumir o compromisso de re-assentar os
agricultores, de imediato, na medida em que vão sendo retirados deste
território.
Assim será
possível atender ao direito dos índios, sem atropelar o direito dos pobres
agricultores, que também não têm culpa do impasse agora existente.
Para situações
difíceis, se requer grandeza de ânimo, não o atalho das armas.
Fonte : Grupo Teias de Comunicação
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